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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

E depois da folia?






Durante o Carnaval sabemos que boa parte do Brasil pára, viaja, descansa ou cai mesmo na folia. Mas para clubes, escolas de samba ou bloquinhos de rua o Carnaval significa trabalho, muito planejamento, organização e dedicação.


Já gostei mais do Carnaval, mas não deixo de admirar todo processo artístico que ele contém, sobretudo a arte exposta através das escolas de samba e de alguns blocos carnavalescos (com destaque aos nordestinos).

Existe um batalhão de trabalhadores diretos empregados pelo Carnaval, ou mesmo que dele fazem uso indireto. Artistas, costureiras, músicos ou artesãos, muitos na informalidade. Segundo o Sebrae-RJ, 70% dos trabalhadores das 13 escolas de samba do Grupo Especial do carnaval carioca são informais. Este dado impulsionou a Instituição a criar uma cartilha e a orientar estes trabalhadores sobre a possibilidade de formalização como Empreendedor Individual.

É evidente o impacto econômico que o negócio Carnaval traz a economia brasileira, basta ver o movimento do setor de turismo e hotelaria, o comércio de alimentos e bebidas e o segmento de confecção e vestuário, dentre outros. A formalização de trabalhadores envolvidos na cadeia produtiva e criativa do Carnaval é essencial, mesmo porque todo este ciclo é, em boa parte, impulsionado pela injeção de dinheiro público: uma espécie de "investimento" no Carnaval onde o retorno é obtido com o aquecimento e formalização desta economia, com efeitos positivos sobre a arrecadação.

Mas igualmente importante é o desenvolvimento profissional destes trabalhadores. Além de dar sustentabilidade a esta cadeia produtiva, a qualificação destes profissionais faz com que se desenvolvam e multipliquem todo conhecimento, suas habilidades, atitudes e valores, disponibilizando-os "para fora do barracão" e para o resto do ano.  O conhecido Mestre Adamastor, da Acadêmicos do Tucuruvi (escola de samba do Grupo Especial de São Paulo) percebeu que o Carnaval pode levar para as empresas, através de palestras e workshops, lições sobre a organização, o entrosamento e a paixão que dão vida à bateria de uma escola de samba. Mestre Adamastor viu outras possibilidades de trabalho e geração de renda e, além disso, enxergou no mundo corporativo espaço para levar a criatividade do Carnaval.

Quantas bordadeiras, costureiras, músicos, coreógrafos, artesãos, designers, projetistas poderiam ter seu trabalho e sua renda mantida ao longo do ano, tornando-se independentes da riqueza gerada apenas no Carnaval? Ao longo do ano as cidades têm promovido a oferta de trabalho baseado na criatividade ou na expressão artística, aumentando a força que esta economia pode gerar, especialmente combatendo o desemprego e a informalidade cada vez mais presente? Quanta gente que, depois da folia, poderia utilizar seu trabalho criativo para alimentar a cultura e a economia dia-a-dia?

O que acontece é que esses trabalhadores são muitas vezes ignorados, se tornando invisíveis pelo resto do ano. Justamente eles que são cheios de criatividade e garra, condições que os deixam com um potencial enorme de “girar” uma economia que proporciona cultura à população. É chegada a hora de incluir esses trabalhadores, seus exclusivos e valorosos bens e serviços criativos, no cotidiano das cidades.

Afinal, o ano no Brasil não começa depois do Carnaval?



Um comentário:

  1. Muito bom seu ponto de vista, porém quem financia a folia somos nós, pagadores de impostos. Em um país onde o dólar cresce a cada dia mais, moeda enfraquecida, saúde pública um caos e o congresso, nem preciso falar, cheio de corvos sedentos!
    Até que ponto o carnaval é relevante e necessário?

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