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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Formação Docente e Perspectivas da Educação Profissional

Um dos grandes obstáculos a uma educação profissional de qualidade é a formação docente. Afinal, quem vai educar e preparar as pessoas diante de novas formas de trabalho? Como desenvolver docentes para atendimento à atual ampliação da oferta e à nova demanda por educação profissional?


Em algum momento a humanidade se deparou com situações semelhantes com as que nos deparamos atualmente. Em algum momento do seu desenvolvimento social e econômico, o Brasil precisou dar conta de preparar aqueles responsáveis pela qualificação ao trabalho, em suas diversas formas. Fatos históricos podem nos ajudar a encontrar saídas...


Em 1909, o governo do presidente Nilo Peçanha criou as Escolas de Aprendizes e Artífices, para preparar o país à lógica liberal emergente e a política de desenvolvimento nacional. Tais escolas se constituíam num novo sistema de educação profissional mantido pelo Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria, e ofereciam ensino profissional primário gratuito. Os critérios de admissão privilegiavam os desfavorecidos e as escolas eram mantidas e custeadas pelo Estado, municípios e particulares, mais subvenções contidas no orçamento do Ministério. Na época, sabemos que esta ação demonstrou-se ineficiente, não só pela fraca infra-estrutura material (edifícios, recursos didáticos, etc.), mas também pela escassez de profissionais qualificados ao ensino do trabalho.
Vinte anos depois novamente são preparadas políticas para atendimento das demandas da industrialização e da urbanização da população, frutos do governo populista de Vargas e da substituição do modelo agro-exportador, por um modelo de desenvolvimento fundamentado na substituição das importações e de industrialização em larga escala.

Durante o Estado novo, é estabelecida uma série de reformas – chamada Reforma Capanema (Ministro Gustavo Capanema) – e a Lei Orgânica do Ensino Industrial (1942). Que estruturava o ensino industrial em quatro modalidades: básico (quatro anos); de mestria (dois anos); o ensino artesanal e o de aprendizagem (destinado aos aprendizes das plantas industriais instaladas no país). O ensino industrial de grau médio previa o ensino técnico industrial, a ser concluído em três anos, e o ensino pedagógico, que visava formar os docentes responsáveis pelas escolas deste ramo de ensino, devido novamente à carência de docentes qualificados para a instrução industrial.

Nos anos 60 há uma onda de “importação” de profissionais altamente qualificados de países já industrializados, com vistas a preparar trabalhadores para a indústria brasileira. Em geral, profissionais gabaritados que, mesmo sem nenhuma base pedagógica, aventuram-se na atividade docente. Isso foi muito comum dentro das grandes corporações industriais brasileiras da metade do século XX, num primeiro formato de educação corporativa e desenvolvimento do “capital humano” (leia mais sobre).




Com o desenvolvimento da tecnologia da informação e comunicação no final do século, altera-se a própria dinâmica do trabalho, no espaço e no tempo. E a formação de docentes para a EPT torna-se alvo de mudanças necessárias. Que pese a necessária base pedagógica (entendimento da educação como instrumento de mudança social), mal percebida ao longo da história da EPT, vez ou outra o país lançou mão de formas pontuais de formação de docentes em EPT para enfrentar a escassez destes profissionais.
Só que talvez não seja mais necessário formar docentes para o desenvolvimento de um determinado ofício de natureza industrial ou comercial. Nem tampouco “importar” cérebros de países de ponta. O conhecimento da pós-modernidade é volátil, transforma-se com extrema velocidade e se redescobre a todo o momento.
E talvez a educação profissional precise de docentes conscientes deste novo cenário, condição para acompanhar uma nova geração de alunos. Para além da formação pedagógica, os professores devem desenvolver o hábito da inovação, da criatividade, do empreendedorismo e da humildade de ser um eterno aprendiz.

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