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segunda-feira, 16 de abril de 2012

A culpa é de quem?

Semana passada, um menino de dois anos foi levado ao Hospital Infantil São Camilo, em Belo horizonte (MG), para exames após uma queda dentro de casa. Chegando ao hospital, a médica plantonista o encaminhou ao serviço de tomografia. Lá deveria ser administrado um sedativo para realização do exame; entretanto, a técnica em enfermagem que o atendia trocou os frascos e acabou por dar ácido usado para cauterizar verrugas!
Felizmente o caso não resultou em óbito, fato que já ocorreu em outros “enganos” como esse. O hospital mineiro informou que está dando todo o suporte à família e a recuperação do garoto. Num primeiro instante, como em outros casos semelhantes, remeteremos a culpa na má qualificação profissional do técnico em enfermagem.
É evidente que há diversos centros de formação de profissionais para enfermagem com diferenças na qualidade oferecida. Uns mais, outros menos. Cabe ao COREN – Conselho Regional de Enfermagem – de cada estado fiscalizar o exercício da profissão, exigindo, por exemplo, a Habilitação Profissional de Técnico em Enfermagem de 1800 horas/aula como condição para registro e atuação profissional de Técnico em Enfermagem. A formação básica de Auxiliar de Enfermagem, mais rápida e cuja exigência de escolaridade e idade é menor é desestimulada.
De certa forma, todo este itinerário formativo visa, além de prepará-lo como futuro profissional da enfermagem, solidificar a sua escolha, afinal, são mais de dois anos de estudos e contato com a área.  Reforço isso, pois é uma formação profissional muito procurada, desde ao interessado convicto ao aventureiro atraído pelo “glamour” da área de saúde: a roupa branca, supostos bons salários, o trabalho ao lado dos médicos, o status... No entanto, nesta área não se aceitam erros ou enganos, muito menos aventuras.
A todo o momento é reforçada a responsabilidade no exercício da função ou as situações radicais que encontrarão: técnicas para o cuidado, o contato direto com a doença, com a morte. Saibam que após as primeiras atividades de estágio (prática profissional), a evasão deste curso aumenta significativamente: é a seleção automática daqueles capazes de “segurar o rojão”.
Definitivamente, ser técnico em enfermagem não é pra qualquer um. A média salarial de um técnico em enfermagem, algo em torno de R$900,00 (em São Paulo), é incompatível com a responsabilidade deste profissional e com os riscos a que está sujeito. Gostaria muito de saber se esta técnica de enfermagem de Belo Horizonte tinha outro trabalho: afinal, é opção a vários técnicos como forma de reforço a renda mensal. Poucos são os hospitais que exigem exclusividade do profissional e que pagam a diferença.
Conseqüência disso é uma jornada de 12 horas por dia, em média, em situações extremamente estressantes, o que atinge diretamente a disposição e a atenção deste profissional em suas tarefas.
Pergunto se as instituições da área da saúde estão preocupadas com a saúde dos seus trabalhadores?
Pensemos nas condições que técnicos em enfermagem possuem para a realização de seu trabalho, ao invés de superficial e precipitadamente atribuir irresponsabilidade à formação profissional. A grande maioria dos alunos de enfermagem que conheço tem paixão e muita dedicação pelo que fazem, resistindo e fazendo o bem a outras pessoas mesmo em condições adversas.

Um comentário:

  1. Um dos problemas que a própria classe precisa romper para ser mais valorizada é o mito de que Técnico de Enfermagem é uma profissão subalterna e inferior, imagem que grande parte dos enfermeiros tem de si mesmo. Embora sua ação seja complementar dentro da cadeia dos profissionais da saúde em geral o enfermeiro tem muito mais autonomia que condições de trabalho.
    Começar pela igualdade de condições de trabalho seria um passo grande.

    As instituições precisam realmente se mobilizar mas eu vejo também a falta de união dessa classe... Os médicos no entanto, um exemplo de união junto as entidades sindicais.
    Existe um muro enorme entre as classes de trabalhadores da área de saúde, onde sobram ou inexistem recursos dentro das classes que atendem o mesmo paciente.

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