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terça-feira, 20 de março de 2012

Questão de prioridade

Gostaria de reproduzir aqui no Blog o artigo escrito pelo engenheiro Rodolfo Landim, ex-diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Com o título “Um Belo Exemplo”, o artigo de Landim retrata a política de pessoal da Petrobrás, adotada desde a década de 50, pautada na construção de conhecimento e tecnologia próprias.  Ela talvez explique o sucesso desta empresa no mercado mundial.
“Folha de São Paulo, 16/03/12
A HISTÓRIA tem mostrado que as sociedades mais avançadas são aquelas que se preocuparam com a educação de seus povos. Exemplos não faltam de países que optaram por essa política de resultado de longo prazo e dela se beneficiam. Existem também outros, dos que ignoraram tal política e amargam a dura realidade do subdesenvolvimento e da dependência externa.
No mundo de hoje, não somente os países procuram investir na educação da população. As empresas também buscam qualificar seus profissionais, preparando-os para um mundo cada vez mais competitivo.
Até o século passado, uma transformação poderia levar décadas para acontecer. Agora, as mudanças são rápidas e, às vezes, pegam empresas e sociedades despreparadas.
Frequentemente assistimos à veloz derrocada de verdadeiros impérios empresariais outrora aparentemente indestrutíveis e eternamente hegemônicos. E essas histórias estão, na maioria das vezes, ligadas à obsolescência de conceitos e de produtos. Por isso, a educação, o treinamento e a inovação são hoje fatores essenciais para o sucesso continuado de pessoas, de empresas e de nações.
Aquela que é talvez a mais bem-sucedida empresa brasileira dos últimos 50 anos é a Petrobras. E provavelmente não por coincidência ela está ligada ao melhor e mais bem-sucedido exemplo de uma política empresarial voltada para o treinamento de sua força de trabalho e de inovação tecnológica do país.
Logo após a criação da empresa, em 1954, foram contratados técnicos estrangeiros que deram continuidade aos trabalhos até então desenvolvidos pelo Conselho Nacional do Petróleo, já obedecendo a uma estrutura organizacional nos moldes das maiores empresas petrolíferas do mundo.
Naquele tempo, vários brasileiros foram enviados aos EUA e lá receberam treinamento nos diversos setores da indústria de petróleo, pois o Brasil não dispunha de cursos especializados nessas áreas de conhecimento em suas universidades.
Passada uma década da criação da Petrobras, os brasileiros tinham substituído os "gringos", e a empresa passou a ser comandada por técnicos nacionais já preparados para enfrentar o desafio de torná-la capaz de suprir o Brasil de derivados de petróleo. Alguns deles foram direcionados para a área de ensino da empresa como forma de transferir os ensinamentos recebidos para os novos empregados.
Desde então, e por décadas, a Petrobras vem mantendo cursos regulares -até criou uma universidade interna- para seus empregados e ainda continua a enviar seus profissionais para diferentes centros de ensino do mundo para que aperfeiçoem seus conhecimentos.
Além disso, a empresa mantém vários convênios com universidades brasileiras, não só visando o contínuo aprimoramento de seus profissionais como também contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento científico e para a boa formação de novos profissionais para o mercado. A empresa também criou o seu próprio centro de pesquisas que hoje é o maior e o mais bem equipado da América Latina.
O resultado dessa acertada política de recursos humanos tem sido os êxitos da empresa. Seus técnicos são respeitados mundialmente e, mesmo depois de se aposentarem, são disputados pelo mercado internacional pela sua alta qualificação profissional.
É fato que esse tipo de iniciativa não é algo fácil de reproduzir, principalmente em empresas de pequeno porte e carentes de uma estrutura formal, mas mesmo essas precisarão de bom capital humano para ter sucesso.
Uma forma de ajudar empresas a investir em sua força de trabalho seria a aprovação de leis de incentivo pelas quais elas pudessem direcionar parte dos recursos destinados ao pagamento de tributos para custear projetos educacionais e de treinamento para seus empregados, desde que aprovados pelos órgãos governamentais competentes, assim como já ocorre com os projetos incentivados na área da cultura.
A educação continuada precisa ser encarada como uma prioridade nacional. Os esforços e os sacrifícios para a sua disseminação devem partir de todos.
RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada duas semanas, nesta coluna.”

Gostei deste artigo, quando coloca em evidencia a necessidade do setor produtivo em colaborar com a qualificação profissional dos trabalhadores e com a construção de conhecimento e tecnologias brasileiras. Este movimento é vital para o crescimento da produção interna e mostra seu caráter estratégico à nação. Belo exemplo da Petrobras!
No entanto, o autor “chove no molhado” ao sugerir leis de incentivo que direcionassem recursos ao pagamento de tributos para o custeio de projetos educacionais e treinamento para empregados. A legislação trabalhista já contempla esta transferência de recursos à educação profissional, através de contribuições sociais direcionadas ao custeio do Sistema Nacional de Aprendizagem, popularmente chamado de “Sistema S”.  As indústrias e agroindústrias, por exemplo, pagam ao SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – 1% sobre o total da folha de salários pagos aos seus empregados (Art. 23 da Lei nº5.107/66).
Não vejo motivos para que o governo abra mão de parte de sua arrecadação, que deve ser investida em saúde e educação básica, para privilegiar a gestão do conhecimento em empresas privadas, por exemplo. Questão de prioridade, não?
O empresário precisa entender que é ele próprio responsável por estimular a construção do conhecimento e da inovação dentro da empresa. É sob esta ótica que as modernas teorias de administração se baseiam: o investimento em educação corporativa traz dividendos ao próprio empresário. Sob a ótica social, não me restam dúvidas que ao estimular a educação dos trabalhadores, estes construirão um patrimônio intelectual próprio, que levarão consigo para além dos muros da empresa.

3 comentários:

  1. Sem duvida a educação nos levara a construção de uma sociedade preparada para enfrentarmos os nossos próprios desejos e coloca-los em ação consolida e real .

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  2. A falta de educação profissional é um assunto que eu pesquiso a algum tempo, inclusive foi o tema da minha monografia “A EXPANSÃO DO TRANSPORTE FERROVIÁRIO NO BRASIL E A ESCASSEZ DE MAQUINISTAS”, o que tem se mostrado como um fator preocupante para o mercado do ramo de transporte ferroviário. Sem um curso de formação profissional comum no mercado, essas vagas são cada vez menos procuradas e sobram na maioria dos estados brasileiros, provocando dessa forma a paralisação de locomotivas e comboios nos pátios por falta de profissionais. Com esse descaso incentivamos cada vez mais o caos urbano causado pela aglomeração no fluxo de veículos nos grandes centros do país.
    Fala se muito em expansão ferroviária e nada sobre formação de maquinistas, será que algum dia o homem poderá ser substituído pela máquina ?
    Recomendo também a leitura do artigo publicado pela Revista Ferroviária em Agosto de 2010 “Maquinista é mão de obra rara”.

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    1. Taí uma boa oportunidade para a entidade SENAT (Serviço Nacional de Aprendizagem dos Transportes) trabalhar, principalmente em conjunto/parceria com grandes empresas de logística ferroviária (ALL, por exemplo).

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