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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Nem pagando...

O Estado brasileiro nos últimos anos vem levantando a bandeira da qualificação profissional como instrumento fundamental para sustentação do desenvolvimento econômico. Isso é discurso corrente tanto na esfera federal, como na estadual ou municipal. Basta ver o conjunto de programas que incentivam a (re)qualificação dos trabalhadores, seja por meio de financiamento estudantil ou através de cursos e vagas compradas pelo Estado e repassados gratuitamente ao público beneficiário, como é o caso do Prouni e do Pronatec, do Ministério da Educação, e o "Via Rápida", do governo paulista, apenas pra citar alguns exemplos.

No entanto, ao observar atentamente o desenrolar destes programas, nota-se baixa adesão por parte da população a ser beneficiada com estas oportunidades. São cursos gratuitos e de boa qualidade educacional oferecidos em diversas localidades, muitas vezes em espaços bem próximos às suas residências, boa parte com os custos de locomoção e alimentação pagos pelo governo. Vejo cursos com 20 ou 30 vagas disponibilizadas e que, com muito  esforço, são 50% preenchidas. Considere que há evasão após o início do curso pra ver quantos terminam...



Tive contato com diversas “teorias” que buscam explicar tal fenômeno, uma vez que ao planejar tais programas seus gestores imaginaram, obviamente, que estes teriam rápida adesão, com filas para conquistar uma “suada” vaga, além de espetacular assiduidade.

O insucesso é explicado, por alguns, por questões técnico-operacionais e pela burocracia. O projeto – bem colocado no papel – não é bem operacionalizado por diversas questões técnicas como falhas de divulgação, no cadastro de beneficiários, no repasse de verbas, além de precário acompanhamento.

Para outros, o problema está no próprio desenho das políticas públicas: há uma saturação de programas assistencialistas. É um super pacote que engloba Bolsa-Família, Bolsa-Alimentação, Bolsa-Escola e afins, para públicos iguais. Com pouca ou nenhuma contrapartida, estes benefícios acabariam por estimular as pessoas a não prosseguirem em sua formação cultural e educacional. “Há renda sem trabalho!”, argumentam. Alem disso, existindo melhora em sua situação socioeconômica, corre-se o risco de perder o benefício e isso justificaria o receio desta população à aderirem aos programas de qualificação profissional.

Há também a “teoria” que atrela o insucesso destas políticas públicas ao fator cultural, principalmente ligado a idéia de que se é oferecido de graça não deve ter muito valor – numa clara confusão entre preço e valor por parte dos beneficiários. É até lógica a confusão, pois como esta população também é usuária de outros serviços públicos gratuitos, mas de baixa qualidade, como os de saúde e educação básica, concluem que qualquer programa estatal deve assim ser.

Mas, ainda que pese os três fatores acima, há um quarto que deve ser seriamente considerado: o fator histórico. Nota-se que a população a ser atingida com estas iniciativas descende ou é a mesma que fora continuadamente desestimulada ao estudo e a cultura por toda a vida, que alocara o seu tempo a serviço de terceiros e ao trabalho braçal. Pessoas que, alienadas do próprio trabalho, foram doutrinadas a condicionar o sucesso futuro aos resultados da produção. De repente, temos uma quantidade imensa de oportunidades de desenvolvimento profissional, para uma população que nem sabe por que ou por onde procurá-las!

Receio, alienação, hábito, medo? Ora, não foram acostumados a tê-los por décadas?

Mudar o resultado de anos de clausura ao mundo do conhecimento requer tempo e toda mudança de paradigma deve ser trabalhada incansavelmente...

E você? Se incomoda com isso também?

Qual a sua opinião? O que pra você justifica a não adesão de boa parte da população aos programas de (re)qualificação profissional, mesmo ofertados  gratuitamente?



8 comentários:

  1. Realmente esse assunto rende boas discussões...acho que o grande problema está no fato das pessoas ainda não terem tanto interesse no próprio desenvolvimento educacional, dessa forma, fica muito mais cômodo pensar que os cursos gratuitos não possuem qualidade, do que retomar ou iniciar os estudos.

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  2. O grande problema ainda é a falta de objetivos, só se estuda quando se tem pelo menos um plano ou alimenta algum sonho na cabeça, as pessoas não estudam por lazer...
    Fomos criados como terceiro mundo para sermos servos de países de primeiro mundo e ainda temos uma mentalidade de pensar pequeno, de querer resultados imediatos atrelados a necessidade de trabalhar primeiro pra depois estudar. É preciso mudar o conceito, plantar motivação, pregar oportunidades, testemunhar sucesso de pessoas que mesmo em condições nada favoráveis se beneficiaram desses cursos oferecidos e conseguiram mudar a direção de suas vidas.

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    1. Talita:
      assim como eu, você coloca o fator histórico como justificativa para a não adesão das pessoas a estes cursos, mesmo que gratuitamente. Concordo com você, pois existe um paradigma que precisa ser combatido, de que o estudo é um fardo pesado, inalcançável, privilégio de alguns poucos mais abastados... Penso que estas políticas e outras iniciativas semelhantes devem sempre existir e que o fator histórico seja considerado quando forem avaliadas.

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  3. Dois pontos fundamentais elencados por você em sua matéria levam a não adesão de pessoas para qualificação ao mercado de trabalho:
    1)Divulgação em massa dessa oportunidade de formação: o governo não tem interesse em apropriar-se de campanhas em mídia para divulgação de programas que, de certa forma, possibilite uma formação intelectual de trabalhadores poucos ou não qualificados. A aquisição de cultura permite ao indivíduo um olhar crítico sobre sua realidade e condições (sociais, culturais, educacionais, etc), logo, agregando valores que não vão ao encontro com os objetivos assistencialistas dos programas promovidos pelo Governo.
    2)Oferta de programas assistencialistas, promovidos pelo Governo como forma de "manter" ou "controlar" opiniões de famílias que dependem diretamente desse recurso para sobrevivência. Por um acaso uma família que vive com a renda do "Bolsa Família", que possue pouca instrução escolar, que não conhece a diversidade do mercado de trabalho, tão pouco valores sociais concretos, vai deixar de apoiar o Governo que lhe beneficia de forma fácil para correr atrás de uma oportunidade de conquistar algo mais produtivo na própria sociedade em que vive? É muito mais prático não sair da "Zona de conforto" do que "colocar a mão na massa".
    Bom, espero ter ajudado com minhas inferências em seu Blog...

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    1. Olá Gisele,
      muito pertinente sua análise e consideração. Como o governo desenha suas políticas públicas sob a ótica do VOTO, passa a ser muito "interessante" a dependência destas famílias a politicas assistencialistas. Ao contrário do que se fala, não há mobilidade social alguma!
      Tampouco há inserção destas pessoas na cadeia produtiva, justamente num período onde alguns setores da economia se aquecem.
      Obrigado pela sua participação e compartilhe o blog com os colegas daí do Maranhão.
      Abraços!

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  4. Este assunto é muito pertinente na área social, entendo que todas estas politicas publicas são importantes para o desenvolvimento do cidadão, porém é uma pena esta população não levar a sério, ou aproveitar as oportunidades de qualificação,ocorrendo muita evasão.
    Concordo com o fator histórico que abordou, mas hoje observo que as pessoas não estudam ou se qualificam, por que não querem , e infelizmente a maioria não se esforça em sair do mínimo da bolsa família e cesta básica, permanecendo no precário.

    Parabéns por sua iniciativa, continue nos fazendo pensar na educação, pois com muito otimismo acredito nela EDUCAÇÃO.

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    1. Oi Patricia,
      que bom que deu certo a postagem!rs...
      obrigado pelo comentário!

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