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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Mão Dupla

No que se refere à educação, governo, empresariado e sociedade civil concordam em uma coisa: é preciso qualificar pessoas para que o país dê conta de sustentar seu crescimento econômico. A educação, sobretudo a profissional de nível técnico ou tecnológica, se tornou assunto corrente nos jornais e nos discursos políticos, sob a idéia de que a globalização e o levante brasileiro ao progresso sócioeconômico necessitará de trabalhadores capacitados, bem formados e competitivos frente à mão-de-obra estrangeira. E aí me pergunto: a educação é consequência da própria evolução do trabalho ou, ao contrário, o trabalho é fruto de contínuo processo educativo?
Ora, se todos nós temos um desafio pela frente e concordamos com a idéia de preparar brasileiros para um novo momento, penso que os dois caminhos existem e são complementares.  Peguemos como exemplo, o setor de turismo e hotelaria, tão comentado pela mídia em virtude dos eventos esportivos que teremos no país nos próximos quatro anos: suponhamos um indivíduo que faz um curso de garçom e se prepara para o exercício desta profissão, obtendo assim, competências relativas a todo processo produtivo ali presente: higiene pessoal, atendimento ao cliente, serviço à mesa, comunicação oral e escrita, dentre outras. É a partir do desenvolvimento destas competências que o egresso deste curso irá buscar oportunidades no mundo do trabalho.

De outra forma, o indivíduo que trabalha na mesma função, garçom em um restaurante, aprende com o cotidiano do trabalho, sem mesmo ter passado pelos bancos escolares. Reconhecem e aprendem, explícita ou tacitamente, qual melhor maneira para realizar certos procedimentos, como se relacionar com os colegas de trabalho e com a clientela, como operar softwares aplicados a suas tarefas, etc. A vivência e toda experiência adquirida ao longo do trabalho também dão a ele uma importante aprendizagem profissional. Inclusive, esta competência toda pode ser levada para além dos muros da empresa, assim como fizeram (ou fazem) vários empreendedores, utilizando o conhecimento adquirido no trabalho para começar um próprio negócio.
Assim, no primeiro caso a educação foi realizada de forma planejada e sistematizada para a obtenção de aprendizagem aproveitando-a nos processos produtivos. É a chamada “educação para o trabalho”. No segundo caso, a educação ocorre pela vivência de uma ou mais ocupações proporcionando a evolução da aprendizagem dentro do contexto profissional, donde se desenvolve a “educação pelo trabalho”.
Notamos que, de fato, a educação profissional se desenvolve não só na escola, mas também na empresa, na residência e na convivência social (considerados como espaços educativos não-convencionais). Cada vez mais pessoas estudam em casa ou no trabalho e acessam o ciberespaço da formação e da aprendizagem à distância, através dessa possibilidade de obtenção das informações disponíveis nas redes de computadores interligados.
Ao citar o exemplo do garçom, nota-se no primeiro caso o papel importante da escola, como avalista das competências daquele trabalhador através da certificação. Porém, a educação para o trabalho exige que o aluno se aproxime da prática profissional e dessa forma, a escola complementa o caminho profissional por meio de metodologias próprias como o estágio, as empresas-escola, projetos, dentre outras. A mesma aproximação fazem as organizações, onde por meio das chamadas “universidades corporativas” ou dos setores de pessoal, buscam desenvolver, sistematizar e disponibilizar o conhecimento dos trabalhadores. Entendo a ideologia intrínsica a um e a outro modelo e não fecho os olhos para isso: no entanto, a aprendizagem profissional se dinamiza e acontece!
Não se trata de estabelecermos o primado do trabalho sobre a educação, ou vice-versa, mas sim, de entender a existência desta "mão dupla" na formação profissional e o papel importantíssimo que vários atores sociais possuem para sustentar o desenvolvimento brasileiro. Exigiremos sim, de cada parte, a sua responsabilidade com a formação profissional.

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